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SUZANA PIRES SE DESTACA COMO ATRIZ E NA EQUIPE DE ROTEIRO DA NOVELA “FLOR DO CARIBE”

SUZANA PIRES SE DESTACA COMO ATRIZ E NA EQUIPE DE ROTEIRO DA NOVELA “FLOR DO CARIBE”

Suzana Pires, que estará ministrando Curso de Roteiro na BRAAPA Escola de Atores, se destaca como atriz e na equipe de roteiro da novela “Flor do Caribe”.

Em apenas quatro anos, a vida de Suzana Pires mudou completamente. A atriz, que interpreta a cigana Safira nas cenas de “flashback” da trama nazista de Flor do Caribe, conquistou seu espaço na televisão depois de interpretar a baiana Ivonnete de Caras & bocas, em 2009. E, de lá para cá, só subiu degraus em sua carreira. Tanto que hoje, orgulha-se por ser uma das poucas pessoas que tem a oportunidade, em uma novela, de participar tanto do elenco quanto do time de roteiristas. “Fico muito orgulhosa, principalmente porque sei que, quando entrei na Globo, já tinha uma carreira trilhada como atriz e autora fora da emissora. Pode parecer que tudo aconteceu rápido, mas me preparei para isso ao longo de muito tempo”, valoriza.

O primeiro contato com Walther Negrão, de quem é colaboradora em Flor do Caribe, veio quando foi escalada para viver a batalhadora Janaína de Araguaia, em 2010. Na época, os dois conversavam sobre a experiência de Suzana na redação do seriado Os caras de pau e o autor chegou a vê-la no teatro, em uma apresentação do espetáculo De perto, ela não é normal, assinado por ela. “Depois de um ano e meio, ele buscava uma pessoa nova para sua equipe e a Central Globo de Desenvolvimento Artístico, a CGDA, chegou ao meu texto. Eles têm um planejamento para cada autor. O meu, por ser atriz também, é um pouco mais complexo”, explica.

P – Você passou de autora de seriado a colaboradora de novela na Globo. O que mais teve de mudar na sua escrita nessa transição?

– Em Os caras de pau, eu tinha três minutos para desenvolver uma ideia. Já em Flor do Caribe, podemos ter 30 dias. Por isso, precisamos saber bem o que cada personagem faz ali. Essa novela tem um retorno de personagens muito bom, então penso que isso foi estruturado de forma eficiente desde o início. Tudo está bem equilibrado. 

P – Você já estava acostumada a escrever um projeto e atuar em outro, mas essa é a primeira vez que faz as duas coisas em um único trabalho na televisão. Que benefícios essa jornada dupla traz para você?

R – Quanto a atuar, foi bem tranquilo. Em um dia, gravei cenas que foram exibidas em vários capítulos. A gente descobriu uma forma porque queriam que eu aparecesse na novela como atriz. Isso seria um charme, um lado afetivo mesmo. E para mim também é bacana exercitar isso. Em reunião, criamos essa personagem. E é uma coisa boa de fazer porque me deixa livre. Não posso entrar para não fazer nada, mas também não dá para pegar um papel que tenha de gravar muito ou que seja essencial, que me prenda ao estúdio. Achei a saída fantástica. 

P – Walther Negrão assina a novela como autor e você tem outros colegas colaboradores. Como funciona esse trabalho em equipe?

R – A gente tem uma criação muito coletiva. Jogamos as ideias na mesa e o Negrão é o nosso maestro. Ele conduz nossas propostas para um lugar. É uma reunião incrível para mim porque o que faz uma boa reunião é a falta de pudor. E ali ninguém se sente amarrado, tudo é bem-vindo. Estou em uma fase de experiência criativa como jamais tive. Artisticamente, esse é o momento mais rico que já tive.

P – Vocês se dividem em núcleos? Tem algum personagem para o qual você escreva mais?

R – Não, nossa divisão não é feita dessa forma. Eu escrevo texto de todos os personagens, mas em momentos diferentes. Quem decide o que cada um vai tocar é o Negrão. E isso muda a cada semana. Eu, por exemplo, adoro escrever o texto do Dionísio, papel do Sergio Mamberti. Mas não sou a única que escreve para ele. 

P – Com o desenvolvimento de seu trabalho como autora na televisão, acredita que suas aparições como atriz diminuam com o passar do tempo?

– O que sempre marcou minha trajetória profissional foi a tranquilidade. Eu sabia que trabalhando e me esforçando, iria alcançar meus objetivos. E isso desde os 15 anos. Às vezes, tive mais dificuldades, mas as coisas sempre fluíram bem. Me preparei para exercer essas duas funções. Quando as pessoas conversam comigo, se surpreendem com a consistência da minha carreira como autora. Porque há projetos meus que nem todo mundo sabe que são meus. Tenho algumas peças e a primeira novela exibida em celulares era minha, a Tia Sueli em Copacabana. Então, não me vejo abdicando de uma atividade em função de outra. Pode ser que eu opte por trabalhar mais um dos lados em determinados períodos, mas minha intenção é conciliar sempre.

P – De que forma ser atriz ajuda você na hora de definir o que tem mais chances de chamar atenção e se destacar na trama?

R – Acho que tem a vantagem da minha própria experiência de “set”. Às vezes, isso muda na hora de rubricar algo para que o ator entenda melhor. Na tevê, o elenco chega mais pronto. Por isso mesmo, é importante que, em casa, ao estudar o texto, ele tenha uma clareza maior do que o autor está produzindo para ele. 

P – Você sente que, pelo fato de ter o retorno de público por ser atriz, também é capaz de entender melhor o que as pessoas curtem ou não na trama?

– Acho que não funciona assim. Televisão é uma maluquice. Até hoje, não sei o que faz uma história “pegar” e outra não. E, provavelmente, ninguém sabe. Eu até acompanho muito as redes sociais na hora da novela. Fico vendo, em tempo real, o que estão falando de Flor do Caribe. Mas a gente não muda a forma de escrever por conta do que lê. Aquilo não é nem 10% do público brasileiro. Nesse sentido, o que nos baliza mesmo são os números consolidados que recebemos do Brasil inteiro.

P – Sua relação com a audiência mudou depois que passou de atriz a autora de tevê?

– Eu sempre me liguei em audiência. Assim como ficava ligada na bilheteria do teatro. Mas não faço só por isso. Até porque a audiência é a última coisa em que se deve pensar durante o processo criativo. Tem de se sentir livre para escrever sobre o que você verdadeiramente quer. Se não rolar uma motivação pessoal, o mais provável é que não funcione.

P – Você já declarou que, quando chegar a hora de escrever uma novela sua, certamente se arriscará na comédia. Como se iniciou a sua relação com esse gênero?

– Segui um conselho. Quem me deu o toque de acreditar no meu humor foi a Lupi Gigliotti e a Cininha de Paula. Elas me conheciam, sabiam meu jeito de pensar. Sou amiga da Maria Maya há anos e a Cininha sempre me chamou para fazer humor. Um dia, ela disse que eu deveria criar o meu. Antes, eu fazia outro tipo de teatro. Quando escrevi a peça De perto, ela não é normal, foi muito rápido. E quando vi aquilo dando certo, percebi que tinha um humor que refletia sobre a vida e que tem a ver comigo. Não faço humor de piadas, é um humor de situação.

P – Até 2008, quando você foi convidada para fazer Caras & bocas, sua carreira era pautada pelo teatro. Depois disso, aos poucos, você ganhou espaço na tevê. Que momento considera crucial nessa transição?

R – Penso nisso e não consigo chegar à conclusão de qual foi o ponto decisivo. Caras & bocas foi muito bacana no meu currículo. Mas, ao mesmo tempo, Araguaia me mostrou como uma mulher sensual, coisa que nem eu tinha enxergado. E foi ali que iniciei o contato com o Walther, com quem trabalho hoje escrevendo Flor do Caribe. É complicado determinar um ponto de mudança. Acho que a minha carreira foi trilhada a partir de passos. Uns maiores, outros menores, mas sempre avançando. 

P – Agora, o que espera do seu futuro na televisão?

– Hoje eu sinto que tenho um chão para pisar. Construí um alicerce, minha carreira tem isso. Não sinto grandes inseguranças. Sei que tenho muito a aprender, mas o chão já está feito para ser trilhado. Então, o que eu busco é ter cada vez mais qualidade no que eu estiver fazendo. Como se estivesse lapidando uma bola de ideias tanto como atriz como quanto autora.

P – Você tem dois contratos com a Globo, um como autora e outro como atriz. Você tem ideia de qual deles a emissora vai explorar mais daqui para frente? Você tem alguma preferência?

– Existe um planejamento na Globo e tenho certeza de que não vão anular nenhum dos dois lados. Não há uma conta matemática, mas durante duas novelas eu escrevi Os caras de pau e durante outras duas novelas eu participei de toda a base de Flor do Caribe. Mas tem uma coisa: essa agonia de ter de estar no ar não faz mais parte do meu coração. Tem um momento em que você quer muito se firmar para o público. Passei por isso já. Mas o que eu queria era que ligassem a tevê e, ao ver minha imagem, sentissem que dali vinha algo bacana. Nunca investi em ser uma celebridade, sequer forcei para que soubessem meu nome. Mas queria que soubessem o que poderiam esperar de mim. Hoje, as pessoas sabem meu nome, mesmo sem eu ter investido nisso. E quem não sabe meu nome sabe, pelo menos, o que eu fiz. Acho que criei minha referência de qualidade, que é o que realmente importa.

Tudo a seu tempo

Suzana Pires começou a se dedicar ao teatro ainda na adolescência. E sua estreia na tevê também não demorou, ocorrendo em Tocaia grande, novela da extinta Manchete, de 1995. Na época com 19 anos, Suzana aproveitou a experiência. Mas, ao final, preferiu colocar uma mochila nas costas e viajar a Europa a tentar se firmar no veículo por aqui. Depois de um tempo viajando e estudando fora, voltou direto para o curso de Filosofia na PUC do Rio de Janeiro, graduando-se. “A televisão ainda não tinha entrado para valer na minha vida. Minha energia estava toda voltada para o meu conhecimento e o teatro. E hoje percebo o quanto isso foi importante, tanto como atriz quanto como autora”, avalia.

Chegou a ensaiar estreitar laços com a televisão em 2003, ao participar de Agora é que são elas, mas foi em 2007 a fase decisiva para uma virada completa em sua carreira. Nesse ano, fez pequenas participações na novela Paraíso tropical e nos seriados A grande família, Sob nova direção e Minha nada mole vida, ganhando até uma vaga em um quadro do Zorra total. “Muita coisa aconteceu e fiquei em contato com várias pessoas o tempo todo. Tudo começou a borbulhar na panela. Depois, em 2009, o Walcyr me chamou para fazer Caras & bocas”, lembra Suzana, que marcou presença também em Araguaia, Fina estampa e Gabriela.

* Flor do Caribe, Globo, segunda a sábado, às 18h20

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